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quinta-feira, 25 de abril, 2024

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Câmara de Espelhos suscita debate sobre feminismo e direitos das mulheres no MIS

Há diversas formas de violências contra as mulheres. Elas estão em todas partes: nas ruas, escola, faculdade, trabalho, em casa, no transporte. O que começa com um discurso machista, que passa despercebido e naturalizado, pode chegar até o ato do feminicídio. O filme exibido na noite dessa terça-feira (4.12) no Museu da Imagem e do Som (MIS), Câmara de Espelhos, da cineasta recifense Dea Ferraz, procurou abordar o assunto por meio de diálogos entre homens de diversas faixas etárias, escolaridade, classes sociais e profissões, com o objetivo de mostrar como determinadas ideias ainda estão presentes no discurso do cotidiano.

O filme estreia no circuito comercial a partir desta quinta-feira (6.12) e foram selecionados quatro estados que apresentam maiores índices de violência contra as mulheres no Brasil para exibição prévia: Pernambuco, Alagoas, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, neste último tendo sido registrados 26 feminicídios em 2017 (dados do Portal G1) .

A produtora-executiva do filme, Luiza Cavalcanti, e a distribuidora, Laura Pimentel, estiveram presentes à exibição no MIS, em Campo Grande, e falaram um pouco sobre o processo de produção. “A partir de um anúncio num jornal de Recife, foi feito um convite para homens entre 18 e 60 anos que quisessem participar do documentário. Foram selecionados 14 homens com vários perfis para um recorte social amplo. O filme foi gravado em seis dias, e a cada dia era abordado um tema diferente, em uma caixa preta cheia de espelhos, com a equipe ao redor da caixa e as câmeras filmando, num processo de imersão mesmo. Os homens iam para casa todos os dias e voltavam no dia seguinte, eles tinham tempo para pensar sobre os temas”, diz Laura.

A produtora-executiva, Luiza Cavalcanti, e a distribuidora, Laura Pimentel, estiveram presentes à exibição no MIS.

“Os temas apresentados são um desdobramento da submissão feminina diante da superioridade masculina, na forma de imagens veiculadas pela mídia. A ideia era trazer esses discursos da mídia nos conteúdos que eram passados, e eles falarem sobre isso. São temas polêmicos que estão presentes em nossas vidas, precisam ser discutidos”.

Havia uma pessoa infiltrada, um representante do Instituto Papai, em Pernambuco, que trabalha a valorização da diversidade a partir da perspectiva feminista de gênero. “A diretora pensou em colocá-lo para mediar os diálogos, ele tinha um ponto eletrônico no ouvido. Ela só pedia para ele intervir, mas não ditava as falas dele, apenas para os entrevistados não fugirem do tema nos diálogos”.

Luiza Cavalcanti, uma das produtoras do filme, explica que o desejo do projeto era abrir esse diálogo. “É uma construção, as falas não são cortadas de imediato. Na primeira tentativa de edição, os cortes nas falas foram mais violentos, mas depois a edição foi refeita. Não era intenção da diretora transformá-los em monstros, pois eles também têm família, uma vida, apenas mostrar que o machismo está inserido na sociedade. O processo de edição foi muito difícil. Depois do trabalho concluído, a diretora ficou um mês sem sair de casa”.

As pessoas presentes fizeram várias intervenções, que gerou um produtivo debate sobre o filme. Cristiane Duarte, da revista Empodere, que agrega conteúdo produzido por mulheres feministas de todo o Brasil, disse que o filme é o “retrato do machismo enraizado na nossa sociedade”. “A gente vê nas falas, nas instituições, e também enraizado nas mulheres. Como esses diálogos mexem com a gente. Eu gostaria de viver num mundo diferente. É uma mudança estrutural necessária na nossa sociedade, abrir a visão para enxergar além do nosso quadrado”.

As pessoas presentes fizeram várias intervenções, que gerou um produtivo debate sobre o filme.

O filme estreou em 2016 no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – Brasília (DF), ocasião em que o documentário ainda não tinha sido mostrado para os participantes. Depois da estreia, foi organizada uma sessão em Recife, e dos 14 homens participantes, apenas três não compareceram. Como a diretora Dea Ferraz não havia em nenhum momento aparecido para eles, ela também ficou ausente nesta ocasião. Um representante do Instituto Papai falou a ela: “Se você impôs sua ausência durante todo o processo, não é agora que você vai impor sua presença. Se eles quiserem te conhecer, nós te chamamos”. Os participantes manifestaram interesse em conhecer a diretora, que se apresentou a eles.

“Um deles ficou muito mal, pois na época em que o filme foi rodado ele morava com a avó na comunidade e, na ocasião da exibição, já estava cursando faculdade e se assumiu gay. Ele se impressionou de ter falado aquelas coisas. Chorou e achou bom ter gravado aquilo para ele nunca mais esquecer a pessoa que ele não quer ser nunca mais”, disse Luiza.

O documentário foi exibido depois da estreia, em Brasília, em diversos festivais, entre eles o 12º Panorama Internacional Coisa de Cinema – Salvador, BA (2016); 20º Forum.Doc BH – Belo Horizonte, MG (2016); 9º Janela Internacional de Cinema do Recife – Recife, PE (2016); 13ª Mostra de Cinema do FIG – Garanhuns, PE (2017) e 10º Festival de Cinema de Triunfo – Triunfo, PE (2017), melhor Direção.

Dea Ferraz, diretora e roteirista, estudou jornalismo e fez especialização em documentários na EICTV – Cuba. A diretora, que pesquisa a linguagem documental há mais de 15 anos, atualmente tem como foco de estudo os chamados filmes- dispositivos. É dessa pesquisa que nasce Câmara de Espelhos e é a partir dela que novas buscas se estabelecem. Tendo em seu currículo curtas, médias e um longa- metragem, a diretora é ganhadora de prêmios em Festivais no México, Argentina, Cuba e Brasil.  Câmara de Espelhos é considerado pela diretora seu primeiro longa-metragem autoral, resultado de uma longa pesquisa pessoal.

O filme chega aos cinemas e será exibido nas seguintes salas:

  • São Paulo: CineArte Petrobrás;
  • Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Porto Alegre e Curitiba: Espaço Itaú de Cinema;
  • Espirito Santo: Cine Metrópolis;
  • Maceió: Cine Arte Pajuçara;
  • Aracaju: Cine Vitória;
  • Maranhão: Cine Lume.

A equipe de produção e distribuição do documentário vai disponibilizar o filme para interessados em exibições em faculdades, comunidades, bairros e demais cidades onde o filme não vai circular nos cinemas comerciais. A intenção é contribuir para o enfrentamento da violência e para o fortalecimento das redes de mulheres. Os interessados podem entrar em contato com a produção a partir de janeiro de 2019 pelo site.

Fonte: Portal do MS