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sábado, 20 de abril, 2024

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Mulheres no comando: a dor e a delícia de ocupar posições de destaque

Fonte: Portal do MS

Nos últimos 20 anos o empoderamento e o número de mulheres em posições de liderança tem avançado no País. Ao longo dos anos, a luta por igualdade de gênero tem se intensificado e a classe feminina tem mostrado muita competência e talento no trabalho que exercem. Pesquisas apontam que no Brasil a presença de líderes mulheres em cargos de alta gestão é de 19%, enquanto a média global é de 27%. Em Mato Grosso do Sul muitas mulheres já integram esse percentual, como é o caso de algumas lideranças que atuam em setores estratégicos e fundamentais do Estado e que, especialmente para o Dia Internacional da Mulher, falaram ao Portal MS sobre o sentimento de ocupar altos cargos, as renúncias que precisaram e precisam fazer para estarem onde estão, como lidam com o machismo no dia a dia, e o que aconselham para outras mulheres que vêem elas como inspiração e com admiração.  

“Honra e responsabilidade”

Primeira mulher a ocupar o posto máximo da Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso do Sul, Fabíola Marquetti Sanches Rahim, é formada em Direito, e pós-graduada em Direito Constitucional, e em Regime Próprio de Previdência. Foi promotora de Justiça no Ministério Público do Mato Grosso (MPE-MT) em 2003, mas o sonho de passar num concurso em Mato Grosso do Sul e ficar mais perto da família se concretizou em 2005, quando ingressou na PGE-MS. Sentimento:  “Honra e responsabilidade. E essa minha responsabilidade fica redobrada digamos assim, porque enquanto mulher, tenho a obrigação e o desafio de fazer uma gestão diferenciada e ainda melhor para legitimar que outras mulheres também alcancem esse posto”. Renúncias: “(…) eu posterguei a maternidade para o alcance da minha aprovação em concurso público, essa foi um uma primeira abdicação. A segunda é agora no cargo de Procuradora Geral do Estado, porque sem sombra de dúvida a quantidade de horas e o tamanho da minha dedicação ao trabalho é muito maior do que a que eu tinha antes em outras funções. A gratificação é que sempre tive e tenho o apoio e admiração da família. Machismo: “O machismo está presente, não só na sociedade, mas dentro de casa, nos ambientes de trabalho. Por quê? Porque a nossa cultura está ainda em transformação. E nós precisamos administrar isso, que muitas vezes surge naturalmente, em razão da educação que as pessoas recebem. Acredito que a melhor forma de se combater o machismo, é colocando as ideias, expondo o comportamento dele, para que ele identifique que a sua atuação, determinada fala, ou atitude, tem um conteúdo machista”. Conselho: “Quanto mais mulheres, nós estivermos à frente de questões importantes de discussões de destaque, mais oportunidades surgirão para nós ocuparmos essas funções”.

“Não perder a feminilidade mesmo tendo que se impor mais”

Com quase 40 anos de experiência profissional e forte atuação na área habitacional, a engenheira civil Maria do Carmo Avesani Lopez, comanda desde 2015 a Agencia de Habitação de MS. Formou-se pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e desde então tem atuado em cargos de gerência de projetos de obras públicas e privadas. Uma de suas atuações foi como gerente de Urbanização de Assentamento Precário e diretora de Produção Habitacional, no Ministério das Cidades. Sentimento: “Como mulher eu tenho uma responsabilidade aumentada. Ao mesmo tempo que eu preciso mostrar competência independente do sexo eu estou sendo avaliada por ser mulher. É um desafio muito grande”. Renúncia: “Tive que abrir mão de passar mais tempo com a minha família, abri mão de rotinas com meus filhos. Mas sempre busquei ter diálogo e ser franca com eles, explicar que as vezes temos que priorizar algumas coisas, mas o amor, o carinho e o companheirismo nunca faltaram em nossa família”. Conselhos: “Buscar equilíbrio entre trabalho e família, não desistir diante das dificuldades, não perder a feminilidade mesmo tendo que se impor mais. A vida impõe de forma natural que as mulheres sejam capazes de lidar com a dupla jornada, cuidar dos filhos, dos da casa e ainda ser uma boa profissional. Isso realmente é admirável em nós mulheres”.

“Machismo é um exercício diário”

Desde 2015 no comando da Secretaria de Educação, Maria Cecília Amendola da Motta, atualmente preside o Conselho Nacional dos Secretários de Educação. Graduada em Pedagogia (Administração e Supervisão) e Ciências Biológicas, ela é mestre em Educação e em Políticas Públicas para a Infância, e tem especialização em Didática do Ensino Superior, Ecologia e Gestão de Cidades. Em sua trajetória na educação, já lecionou para ensino médio, fundamental e superior, foi coordenadora pedagógica, diretora, assessora, palestrante, além de ter diversos livros e artigos publicados. Sentimento: “O sentimento é de gratidão pela oportunidade que a vida me deu em desenvolver o que me propus profissionalmente, na missão de contribuir com a formação de tantas crianças e jovens e transformar o panorama da educação do nosso estado”. Renúncia: “Muitas vezes a maior renúncia é de estar ausente em alguns momentos no convívio familiar”. Machismo: “É um exercício diário que temos que fazer na vida, em todas as instâncias”. Conselho: “Busque realizar seus sonhos, persevere no ideal que você traçou para a sua vida porque você como mulher faz a diferença”. 

“Sempre que se fala em renúncia, a gente sempre pensa na família”

A douradense Elisa Cléia Pinheiro Rodrigues Nobrecomanda Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast) desde 2016, antes disso, atuou como secretária adjunta da pasta. Graduou-se em Serviço Social pela Faculdade Unidas Católicas de Mato Grosso (Fucmat) em 1986 e desde 2007 é mestre em Educação pela UFMS. Com atuação forte na política da Assistência Social, já liderou diversas frentes de trabalho social, e também já atuou como professora e coordenadora de graduação. Um dos pontos fortes de sua gestão na Sedhast está o apoio em políticas públicas de proteção a mulher. Sentimento: “Ninguém nasce falando, sou mulher e quando eu crescer vou ter uma responsabilidade desse tamanho, ou ocupar um cargo dessa magnitude. Em primeiro lugar, é um privilégio como mulher estar à frente da gestão de um estado. Em segundo lugar é muita responsabilidade. Então é um motivo de orgulho, pra família da gente, e pra gente mesmo. Mas eu vejo assim como um privilégio e uma responsabilidade muito grande”. Renúncia: “A gente sempre fala em renúncia, a gente sempre pensa na família. Em momentos que a gente deixa de estar com a família. Ou em momentos que você está só de corpo presente, mas só a cabeça está pensando lá no que você vai ter que resolver no dia seguinte, naquilo que você vai ter que fazer pelo compromisso que você tem, pelo desafio que você aceitou”. Machismo: “Existe e está bem presente. Muitas vezes você  pensa assim se fosse um homem nesta posição, isso não estaria acontecendo. Mas é com o trabalho, firmeza, e com a maturidade que a gente consegue lidar com alguns comentários e posicionamentos”. Conselho: “Prepare-se muito e esteja atentada com os acontecimentos, com todo movimento da sociedade, tenha maturidade, tenha sempre um ombro amigo para chorar quando for preciso, mas seja aquela pessoa que está sempre em evidencia pelo conhecimento que você tem. Tenho certeza que assim nós vamos chegar bem longe”. 

“Lidere com empatia, seja uma líder que conecta pessoas”

Secretária Especial de Parcerias Estratégicas do Estado de Mato Grosso do Sul, Eliane Detoni, é graduada em Arquitetura e Urbanismo, e possui especializações, em Gestão Regional e Urbana, em Direito Urbanístico e Ambiental, e MBA em PPPs e Concessões. Atuando na área pública desde 1992, ela já exerceu diversos cargos públicos, liderando importantes programas e projetos relacionados às políticas públicas e desenvolvimento urbano. Foi professora da disciplina de Planejamento Urbano, e atuou como consultora de projetos financiados por organismos multilaterais de crédito, em vários municípios. O Escritório de Parcerias Estratégicas (EPE) que comanda, possui equipe multidisciplinar, formada por servidores nas áreas de engenharia, econômico-financeira, jurídica, regulatória e de planejamento. Sentimento: Me sinto honrada e realizada por poder exercer a profissão para a qual me preparei e me dedico muito, mas humildemente privilegiada, pois sou, infelizmente, minoria. Há significativa desigualdade na participação de mulheres em posições de liderança em praticamente todas as áreas do conhecimento. No segmento que eu atuo, área de infraestrutura, essa discrepância ainda é mais gritante e pouco evoluiu de acordo com estudos recentes. Aumentou significativamente o número de mulheres com formação nas áreas de engenharia, porém pouco evoluíram as inserções de alta liderança. Enxergo iniciativas públicas sendo desenvolvidas no Estado que buscam inserir e qualificar, cada vez mais, as mulheres no mercado de trabalho. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer: barreiras culturais; sociais e econômicas. É um processo. Renúncia: Quando o ambiente de trabalho tem uma liderança feminina há maior empatia na equipe, e isso nos ajuda a administrar melhor as dificuldades do dia a dia: o filho que está com febre; a babá que faltou; a viagem no dia do aniversário… O maior desafio que eu senti na carreira, foi após me tornar mãe. A partir daí as renúncias foram muitas, mas em alguma medida, recompensadas por eu não ter precisado buscar caminhos alternativos e abandonar minha carreira original, o que acontece com muitas profissionais. São as mulheres que, frequentemente, se sujeitam a essas mudanças e dificilmente conseguem retornar às suas carreiras sem prejuízos econômicos e financeiros. Sei que sou uma profissional privilegiada nesse sentido. Precisamos pensar em soluções que tornem a maternidade mais compatível com a vida profissional, tanto quanto a paternidade o é. Minha admiração às empresas que criam condições efetivas para que as mães trabalhem sem culpa. Machismo: Atuar num setor predominantemente ocupado por homens, de fato requer um esforço maior, que vão desde estabelecer uma postura de intolerância absoluta a qualquer tipo de assédio à necessidade de comprovar capacidade intelectual e emocional. Isso cansa. Mas penso que todas nós mulheres, em alguma etapa da vida profissional, precisou derrubar essas barreiras. Não posso dizer que eu tenha me sentido prejudicada pela questão de gênero. Há 30 anos atuando na área pública, tive a sorte de trabalhar com pessoas e ambientes mais democráticos e humanos. Por muitas vezes, ouvi engenheiros mais jovens me dizerem que haviam crescido muito emocionalmente e profissionalmente sendo chefiados por uma mulher e que não tinham até então consciência do quão machistas eram. Ter equilíbrio de gênero, traz melhores desempenhos. Não à toa minha equipe é formada 50% por homens e 50% por mulheres. Essa é a parceria que nos melhora, que nos dá apoio mútuo. Conselho: Estude e se capacite para aquilo que irá liderar e, acima de tudo, compartilhe o conhecimento que você tem. Lidere com empatia, seja uma líder que conecta pessoas. Capacite sua equipe e seja uma boa ouvinte do pensamento em grupo. E, claro, não sejamos tolerantes com normas sociais inaceitáveis.